Vício do dia!

Do re mi fa sol la si
Nada mais, somente
estas pequenas drogas
combinadas entre si.

A canção do mar

Eu que não sei nadar
E descubro o mar em mim
Para lá para cá!

Como no primeiro dia na praia
Quando sente à noite
As ondas no seu corpo arrebentarem
Para lá para cá!

E o meu corpo como
um navio desgovernado vai
Para lá para cá!

Inexplicável é sua paixão
pelo balanço do mar
Que encontra em certas
canções que o leva a navegar
Para lá para cá!

Movimento

Muitas vezes caminho devagar
Ainda que tenha muita pressa de chegar!
Medo de abandonar este lugar?
Medo por saber onde vou parar?

Muitas vezes caminho tão rápido
Que não dá tempo nem da paisagem apreciar!
Vontade de chegar?
Ou esforço inútil para não emocionar?

Muitas vezes como agora
Não sei se correr
Não se esperar
Então vou correndo
Por certos caminhos
E em outros nem chego a pisar.

Corro... espero... corro
Um movimento contínuo
No mesmo lugar.

Fantasia

Nem manhã
Nem noite
Nem tarde
Nem dia
Nada
Leviatã
Levitando
Borbulhando
Murmurando
Sussurrando
Fantasia

Poucas palavras

Se vá?
Já vai?
Foi?
Tarde...

Ilusão

Aguardando o inesperado
Que tantas vezes foi sonhado
Que tanto foi desejado
Que tanto foi planejado

Sonhar com o inesperado
Esperar pelo sonhando
Imaginar o planejado
Fugir do indesejado

E de tanto dedicar a vida ao ansiado
Vamos nos embriagando com o que não existe
E sendo omissos com aquilo que temos ao lado.

É pouco

Todo cuidado é pouco
É frágil
É de vidro

Todo cuidado é pouco
É complicado
É difícil

Todo cuidado é pouco
É precioso
É legítimo

Todo cuidado é pouco
É caro
É encomendado

Todo cuidado é pouco
É real
Não é fictício

Todo cuidado é pouco
Quando se trata do outro
Quando se trata de uma vida.

Allegro

Alegria!
Que dia!
Alegria!
Que gente!
Alegria!
Que olham?
Alegria!
Minha gente!
Alegria!
Por quê?
Alegria?
Pelo dia!
Alegria?
Porque sorrir
falar
pensar
em alegria
é um dever
como viver
e ter
consciência
disto todos
os dias.
Então porque
não dizer:
Alegria...
Alegria...

Existindo

Posso querer não amar.
Posso querer não sentir.
Mas não posso evitar
confessar que já está em mim.

É tarde é cedo!
É cedo é tarde!
Não, não existe
hora, nem minuto,
nem dias, nem noites
nem escolhas,
nem desejos,
só eu, a vontade,
o mundo, os outros,
e alguns passos
a dar em direção do meu existir.